quinta-feira, 28 de maio de 2015

Trainspotting de Irvine Welsh


O 33º livro do ano foi: #Trainspotting de #IrvineWelsh.

Um emocionante relato do mundo cruel e sem voltas das drogas...e blá blá blá...

Bem, eu poderia começar falando sobre esse livro com todo o lado pomposo das boas palavras do mundinho fictício que a nossa sociedade acredita viver, como tentei acima. Mas não, esse livro é cru, é forte pra caralho, é sem sentimentalismo barato e coisa e tal... 

Mas sinceramente, pouquíssimos autores dominam tão bem a arte de divagar sobre tantas coisas relapsas ao mesmo tempo. Tal como no trecho que vou transcrever agora:

"A mulher sorri de uma maneira levemente confusa e condescendente, mas para Renton aquilo é infinitamente superior a um "vai se fuder". Enquanto conversam, Renton começa a ficar preocupado com sua aparência. Os efeitos da anfetamina estão diminuindo aos poucos. Teme que seu cabelo, pintado de preto, pareça ridículo, e que suas sardas alaranjadas, a maldição de todo filho da puta ruivo, estejam muito evidentes. Antigamente se achava parecido com Bowie da era Ziggy Stardust. Alguns anos atrás, contudo uma mulher disse que ele era a cara de Alec McLeish, jogador de futebol do Aberdeen e da seleção escocesa. Desde então, o rótulo permaneceu. Quando Alec McLeish pendurou as chuteiras, Renton decidiu viajar até Abderdden para assistir à sua despedida, como sinal de gratidão. Lembrava de uma vez em que Sick Boy sacudiu a cabeça em desalento, perguntando como um cara que se parecia com Alec McLeish podia esperar ser atraente para as mulheres.
Assim, Renton pintou seu cabelo de preto e o arrepiou para tentar apagar a imagem de McLeish. Agora, teme que alguma mulher com quem saia morra de rir quando ele tirar as roupas e revelar seus pentelhos alaranjados. Pintou também as sobrancelhas e pensou em pintar seus pelos pubianos. Em um acesso de estupidez, pediu a opinião de sua mãe.
- Não seja idiota, Mark - ela respondeu, atiçada pelo desiquilíbrio hormonal da fase da vida pelo qual passava..." 

Percebem a inutilidade das linhas, mas ao mesmo tempo o tanto que foi dito nelas, percebem a irresponsabilidade dos personagens, mas a importância que há em cada coisa contextualizada, assim como acontece conosco no decorrer de nossa existência?

Pra ser ainda mais honesto, foi só no final que eu fui entender quem era quem nessa "viagem sem volta"...mas o livro em si, embora cru, como eu já disse, tem em várias passagens reflexões profundas, ressalvando-se é claro, que "reflexões e inflexões" de personagens viciados, marginalizados e que no fundo estavam cagando pra qualquer coisa que não fossem drogas e os meios para se intoxicar de forma rápida e contínua. É um livro sem mocinho, sem mocinha...o herói é a heroína, ou seja, um caos.

Welsh escreve por meio de uma mescla de linguagem, muito interessante por sinal. Acontece que ele me deixou com uma certa raiva do Chuck Palahniuk, autor do Clube da Luta. Isso porque, pela segunda vez, eu pego que as ideias do Chuck não eram tão originais e autênticas assim (o caso da garçonete que literalmente caga em tudo pra afrontar os clientes "otários"),e a outra ocorrência foi quando eu li a distopia Fahrenheit 451 do Ray Bradbury, o qual deixa seu personagem central desolado ao ponto de pensar que é só se perdendo tudo é que se ganha alguma coisa, ou algo assim...mas, por outro lado, me veio a velha máxima ao meu raciocínio de blogueiro que provavelmente está falando sozinho: nada se cria, tudo se copia.

Por fim, se é que vale alguma coisa, eu digo: super recomendo esse livro, é em uma palavra: FODA!

Peguei algumas vezes partes tendenciosas a um discurso romântico sobre o que seria o mundo sujo das drogas, mas é bem mais que isso, é uma viagem a esse mundo. Concluo que, ou o Irvine já esteve embarcado nessa viagem (se é que ainda não está, uma vez que não há outra caminho, senão o tem "um tempo sem!") ou ele conhece muita "gentinha", "viciadinha de merda" que o acompanhou na sua trajetória pessoal (falo assim, porque é assim que as coisas são "praqueles" puritanos que eu conheço, e porque também não quero ser nada mais do que um homem médio) hahaha, espero que sintam a ironia, pelo menos.

Algumas frases: 

"Nunca fui preso por causa heroína. No entanto, uma porrada de caras fizeram suas tentativas de me reabilitar. Reabilitação é besteira. às vezes eu acho que preferiria ir pra trás das grades. Reabilitação significa a negação do eu."

"O desfecho dessa atitude é que fui enviado a essa merda de terapia/orientação. Eu não queria isso. Era isso ou a cadeia. Tô começando a achar que o Spud levou a melhor. Essa merda turva a água pra mim, confunde as questões ao invés de esclarecer. Basicamente, tudo que eu peço é que esses viados cuidem de sua própria vida, que vou fazer a mesma coisa. Por que será que, só porque você usa drogas pesadas, qualquer babaca se sente no direito de analisar e dissecar você?"

"Bem, eu escolho não escolher a vida. se os viados não conseguem lidar com isso, a porra do problema é deles. Como diz Harry Lauder, eu só quero seguir em frente até o fim da estrada..."

"Já larguei algumas vezes. Largar e voltar a usar é como ir pra cadeia. Toda vez que cê é preso, diminuem as chances de se livrar desse tipo de vida. Com a heroína é a mesma coisa, Cê diminui a chance de um dia ser capaz de se livrar de vez. Será que fui eu que encorajei o Tommy a tomar o primeiro pico, só porque tava com o lance em cima? É bem possível. é bem provável. O quanto isso me faz culpado? Acho que o bastante."

33/75 no #Projeto75LivrosEmUmAno.

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